Creatina e cérebro: ciência ou wishful thinking?

Creatina e cérebro: ciência ou wishful thinking?

Body Mind Soul |

De vez em quando aparecem notícias que parecem saídas de um filme de ficção científica: “um suplemento que te ajuda a pensar melhor mesmo depois de uma noite sem dormir”. O mais recente protagonista foi a creatina, normalmente associada ao ginásio e ao aumento de força, mas que agora ganhou espaço como potencial “suplemento para o cérebro”.

A questão é simples: será mesmo assim?

 

O mito do estudo “milagroso”

Muita gente começou a partilhar um estudo que supostamente provava que a creatina melhora a atenção e o raciocínio em situações de privação de sono. O problema? Quando se olha de perto, a realidade não é assim tão entusiasmante.

 

O que realmente aconteceu

  • O estudo não saiu numa revista de topo da ciência, mas sim numa publicação com critérios mais “flexíveis”.
  • Não havia protocolo pré-definido, algo que hoje é obrigatório em ensaios clínicos de qualidade.
  • A amostra era minúscula: apenas 15 pessoas.
  • Foram feitas dezenas de análises diferentes, sem plano claro, o que aumenta a probabilidade de encontrar resultados por acaso.
  • Os efeitos considerados “positivos” foram tão pequenos que dificilmente fariam diferença na vida real.
  • Para piorar, não houve transparência total sobre o processo metodológico, o que levanta dúvidas sobre possíveis erros ou vieses.

 

O que isto significa na prática

Quando juntamos tudo, a conclusão é simples: este estudo não é suficiente para justificar que alguém comece a tomar creatina na esperança de melhorar a função cognitiva. Não é que a creatina seja má — pelo contrário, tem benefícios sólidos no treino de força e na performance física — mas transformá-la num suplemento “milagroso para o cérebro” é, neste momento, precipitado.

 

Ciência precisa de mais do que entusiasmo

A ciência não se faz com um único estudo, ainda por cima pequeno e cheio de limitações. Para se afirmar que a creatina tem de facto efeitos relevantes na cognição, seriam necessários vários estudos, com mais participantes, protocolos robustos e resultados consistentes.

Até lá, a creatina continua a ser o que já sabemos: uma aliada importante no desempenho físico, mas não uma solução para substituir horas de sono ou para acelerar o raciocínio.

Conclusão

Vale a pena lembrar: nem tudo o que aparece com o selo de “ciência” merece ser levado à letra. Estudos preliminares servem para abrir portas e levantar hipóteses, não para criar recomendações práticas.

Se queres melhorar a atenção e o raciocínio, o segredo continua a ser o mesmo de sempre: dormir bem, treinar de forma consistente e alimentar-te de forma equilibrada. A creatina pode ser útil no ginásio, mas ainda está muito longe de ser o teu “café cerebral”.