Exageraste no Carnaval? Nas festas? No fim de semana prolongado? Bem-vindo ao clube dos “comi e bebi demais, e agora estou a pensar em fazer um detox”.
Soa familiar? Pois é. Essa sensação de culpa pós-excessos é tão comum como as promessas milagrosas que aparecem logo a seguir no feed: sumos verdes, chás milagrosos, planos de três dias a líquidos ou shots com nomes tão científicos quanto "anti-inflamatório de raiz ancestral".
A ideia de fazer um detox parece... limpa. Pura. Quase poética.
Mas deixa-me ir direto ao ponto, com a receita mais eficaz (e mais simples) de sempre:
- Tenhas um fígado.
- E, se possível, dois rins.
Pronto. Detox feito.
Estou a brincar? Sim. Mas só um bocadinho.
O corpo humano, essa máquina incrível que te permite estar a ler este artigo sem que precises de pensar em respirar, já tem um sistema de desintoxicação espetacular a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana. E não, não precisa de ajuda de um shot de gengibre com carvão ativado para isso.
Detox virou moda. E dá lucro.
Não é de admirar: a palavra “detox” tem bom marketing. Faz parecer que tudo aquilo que comeste, bebeste ou sentiste pode ser varrido para debaixo do tapete com um plano alimentar de três dias, uma ida ao spa ou um chá de folhas com nomes exóticos.
E claro, a culpa ajuda. Quem nunca abusou num fim de semana e na segunda pensou “esta semana vou mesmo limpar o corpo”? O problema não está em quereres cuidar de ti. Está em achares que isso se resolve com uma poção mágica comprada no Instagram.
Enquanto isso, o mercado sorri. Livros, programas detox de clínicas de bem-estar, sumos prensados a frio, dietas líquidas, cursos de “purificação”, influencers com batas brancas e sorrisos de Photoshop… Tudo embrulhado na promessa de que o teu corpo precisa de uma “ajuda externa” para se livrar do que acumulou.
Mas... toxinas?
Vamos às perguntas desconfortáveis:
- Que toxinas são essas que se acumulam?
- Onde estão?
- Como se medem?
- E mais importante: que provas há de que um chá ou um batido as eliminam?
Spoiler: não há respostas sólidas. O conceito de "toxinas acumuladas" é vago, não definido, e serve mais para vender do que para cuidar.
O verdadeiro detox é boring... mas funciona.
Sim, eu sei. Beber água, dormir bem, comer com equilíbrio e mexer o corpo todos os dias não tem a mesma pinta que um shot fluorescente com um nome cool. Mas sabes o que tem? Resultados reais. Sustentáveis. E grátis.
O verdadeiro detox é:
- Comer alimentos reais, com fibra.
- Beber água suficiente para os rins fazerem o seu trabalho.
- Dormir para dar descanso ao corpo e ao cérebro.
- Fazer exercício físico, que ativa todos os sistemas do corpo.
- Gerir o stress, cultivar relações saudáveis e cuidar da saúde mental.
Ah, e confiar no teu corpo. Ele é muito mais inteligente do que qualquer guru de detox que encontraste no TikTok.
A origem da obsessão
Nada disto é novo. Séculos antes da palavra “detox” se tornar tendência com hashtags, já se faziam sangrias, purgas e jejuns para “limpar o corpo de impurezas”. Mudaram os métodos, mas a lógica mantém-se: há sempre alguém a dizer que estás sujo por dentro e a vender-te uma solução.
Só que hoje temos uma vantagem: ciência. E a ciência é clara — o teu corpo já sabe fazer detox. E fá-lo muito bem.