A ciência está a perder a guerra da polarização

A ciência está a perder a guerra da polarização

Body Mind Soul |

Vivemos numa época em que tudo tem de ter um lado.
Esquerda ou direita. A favor ou contra. Ciência ou “liberdade individual”.
E, no meio deste ringue de opiniões, a conversa sobre factos parece ter ficado sem microfone.

As redes sociais, que nasceram para aproximar pessoas, tornaram-se arenas de guerra — onde o mais alto vence, não o mais informado.
E a ciência, que fala devagar e com cuidado, acaba constantemente a perder para quem grita com confiança.

O exemplo das vacinas

Durante a pandemia, vimos isto acontecer ao vivo: um tema puramente científico transformou-se num símbolo político.
De repente, a escolha de vacinar (ou não) deixou de ser uma questão de saúde e passou a ser uma espécie de declaração ideológica.
E é aí que mora o problema — quando a ciência precisa competir com narrativas políticas, perde o seu propósito.

A política rouba palco à evidência

A polarização é viciante. Dá engagement, gera discussões, alimenta o ego e as visualizações.
Mas quando tudo vira “nós contra eles”, já ninguém ouve para compreender — ouve-se apenas para responder.

Essa dinâmica sufoca qualquer conversa produtiva sobre temas sérios: vacinas, nutrição, alterações climáticas, treino, ou saúde mental. Tudo vira opinião. Tudo é interpretado através do filtro do “meu lado”.

O impacto na saúde pública — e mental

A consequência é clara: a confiança desaparece.
As pessoas deixam de acreditar em profissionais, passam a acreditar em “influenciadores”.
A desinformação ocupa o espaço que a comunicação científica deixou vazio.
E, no fim, a verdade científica fica parecida com uma opinião entre muitas.

O que devíamos estar a discutir

Mais do que quem tem razão, devíamos estar a perguntar:
Como é que comunicamos ciência num mundo que só reage a extremos?
Como é que educamos sem parecer arrogantes?
E como é que voltamos a valorizar o conhecimento — não como arma, mas como ferramenta?

A resposta talvez esteja na forma como falamos, não no que falamos.
A ciência não precisa de gritar. Mas precisa de aprender a contar histórias que as pessoas queiram ouvir.