Há uma nova religião a espalhar-se pelo mundo. Não tem templos nem hóstias, mas tem clínicas com mármore nas paredes e seringas em altar. Falo-te da medicina anti-aging - esse milagre moderno que promete parar o tempo, mas começa por parar o teu saldo bancário.
A ideia é simples: “Tu não estás a envelhecer, estás a acumular toxinas, a perder colagénio, a ser vítima da inflamação silenciosa.” (Já reparaste como tudo hoje em dia é “silencioso”? O corpo já nem berra - é tudo sussurrado pela ciência do Instagram.)
De repente, os 30 são os novos 50, os 50 os novos 25, e há sempre um suplemento, um shot intravenoso ou uma hormona bioidêntica pronta a resolver o que a natureza, coitada, nunca conseguiu acompanhar.
Mas vamos por partes.
Marketing ou milagre?
A medicina anti-aging vende esperança em cápsula. Literalmente. “Restaura a tua energia com NAD+.” “Reverte o envelhecimento com ozonoterapia.” “Corrige o teu ADN com meditação em jejum de soro.” E, claro, a estrela: “Faz a tua análise epigenética para saberes quando vais morrer... e pagar 300€ por isso.”
O marketing está afinado como um bisturi novo. Há sempre uma história de alguém com 50 anos e um corpo de 30 (pouco importa que esteja a tomar mais comprimidos que um octogenário). Mostram-te a pele brilhante, o abdominal sem um pingo de cortisol visível, e o sorriso de quem já não sabe o que é mastigar pão - porque o pão envelhece.
A ilusão da performance eterna
No fitness também se nota. Hoje treina-se não só para ficar forte, mas para ter mitocôndrias felizes. Treinos em jejum, banhos de gelo, respiração do Wim Hof e saunas infravermelhas fazem parte da rotina antes mesmo de levantar um peso. O objetivo já não é apenas saúde ou performance, é “otimização total”. Porque viver bem é bom, mas viver eternamente jovem é melhor.
O paradoxo do biohacker
O biohacker moderno diz que quer saúde, mas parece um farmacêutico em rave: cafeína, creatina, L-teanina, magnésio à noite, vitamina D às 8 da manhã, melatonina às 9 da noite. Tudo monitorizado com wearables, apps e gráficos. Vive em busca da longevidade, mas passa metade do tempo a atualizar suplementos na Amazon.
E depois queixam-se que estão sempre cansados. Pudera, só entre o chá de cogumelo, o treino de resistência e o protocolo de frio, já foram três vidas num dia.
O que é mesmo envelhecer bem?
A indústria quer vender a ideia de que envelhecer é doença. Mas se calhar é só natural. E talvez o segredo não esteja em tentar parecer 20 anos mais novo, mas sim em aceitar o corpo com a mesma paciência com que esperamos que o vinho melhore na garrafa.
Claro que é bom cuidar de nós. Claro que suplementar pode ajudar, que há avanços incríveis na medicina, e que viver melhor e mais tempo é um objetivo legítimo. Mas quando o foco é parecer novo a todo o custo… aí já não é medicina - é vaidade com marketing.
E se há coisa que envelhece rápido é a busca obsessiva pela juventude.