A moda de duvidar de tudo (menos de nós próprios)

Body Mind Soul |

Há quem diga que vivemos na era da informação. Outros preferem chamá-la de era da confusão. Eu cá acho que é a era do “eu sei mais que tu” — mesmo que esse “eu” nunca tenha aberto um livro sobre o assunto.

Hoje em dia, questionar é quase um desporto. Toda a gente tem dúvidas, toda a gente lança perguntas no ar como se estivesse a abrir caminhos para a verdade. Mas a verdade? Essa já foi decidida antes sequer da pergunta ser feita.

Não é raro ver alguém “a fazer perguntas” só para parecer esperto. “Mas tens a certeza que o treino em jejum é seguro?”, “Será mesmo que os hidratos à noite não engordam?”, “E se a creatina for mesmo má para os rins?”. E tu pensas: que bom, alguém curioso. Mas depois percebes que, independentemente da resposta, a opinião dele já está feita. E que aquilo que parece curiosidade é só um escudo para manter tudo como está.

É aqui que começa a confusão entre o cético e o negacionista.

O cético ouve. Analisa. Muda de ideias se for preciso. O negacionista, por outro lado, tapa os ouvidos, abre o TikTok e procura o vídeo que diz exatamente aquilo que ele já queria ouvir. Não está à procura de saber mais — está à procura de estar certo.

Conheces alguém assim? Aquele amigo que jurava que o jejum era o segredo da vida eterna… até desmaiar no treino. Ou aquele outro que passou anos a demonizar a gordura e agora é devoto da manteiga no café. Mas há uma diferença importante entre quem muda porque estudou e quem muda porque alguém no Instagram tem abdominais e uma frase inspiradora.

Há profissionais que passam a vida a estudar, a testar hipóteses, a desafiar o que acreditavam. São os que sabem que a ciência muda, que os contextos contam, que nem tudo é preto ou branco. Esses merecem o nosso respeito. Porque pensar dá trabalho. Exige humildade. E às vezes dói.

Porque é duro admitir que estivemos enganados. Que defendemos ideias erradas. Que demos conselhos baseados em premissas frágeis. Mas é aí que entra a verdadeira honestidade intelectual. Saber largar uma ideia, mesmo que nos tenha acompanhado durante anos.

O problema não está nas perguntas. Está na recusa em ouvir as respostas.

E no meio disto tudo, há consequências. Gente que adia tratamentos. Que recusa ajuda. Que segue dietas extremas só porque alguém “parecia confiante”. Gente que já não quer saber o que é verdade — só quer estar certa.

Pensar criticamente é uma arma poderosa. Mas se a usarmos só para cortar tudo o que não encaixa no que já acreditamos… então não estamos a pensar. Estamos só a proteger o nosso orgulho.

E o orgulho, ao contrário da ciência, nunca salvou vidas.