A sensação constante de barriga inchada, dor abdominal e desconforto após as refeições é mais comum do que se pensa. Por vezes, pequenas alterações no padrão alimentar — como o início de um plano alimentar mais estruturado — podem provocar sintomas temporários. Isso pode acontecer devido ao aumento do consumo diário de proteína, ao uso de adoçantes presentes em produtos light, ou até a uma mudança repentina na ingestão de fibra.
Contudo, quando os sintomas persistem por mais tempo ou surgem após um episódio gastrointestinal agudo, é normal surgir a dúvida: o que tenho, afinal? Se já realizou diversos exames médicos e não foram encontradas alterações significativas, pode estar na hora de considerar outra hipótese.
1. Reflita sobre o padrão dos sintomas
•Tem dor abdominal frequente, sobretudo após as refeições?
•Sente distensão, gases ou alterações no trânsito intestinal (diarreia, obstipação ou ambos)?
•Os exames médicos (análises ao sangue, endoscopias, colonoscopias) não identificaram doenças inflamatórias, celíacas ou outras patologias claras?
Se respondeu "sim" à maioria destas perguntas, é possível que esteja a lidar com Síndrome do Intestino Irritável (IBS).
O que é o IBS, segundo a evidência científica?
De acordo com o American College of Gastroenterology, a IBS é a doença gastrointestinal funcional mais comum. Estima-se que afete entre 10 a 12% dos adultos, especialmente mulheres com menos de 50 anos.
É caracterizada por:
•Dor abdominal recorrente
•Alterações no trânsito intestinal (diarreia, obstipação ou ambos)
•Distensão e inchaço
O diagnóstico é clínico, baseado numa história detalhada dos sintomas e na exclusão de outras condições através de exames complementares. Apesar de não provocar alterações visíveis no intestino, é uma condição real, que interfere significativamente na qualidade de vida.
O que pode ser feito?
1) Ajuste a alimentação de forma estruturada
Comece por observar a relação entre os alimentos e os sintomas. Muitos pacientes com IBS notam piora após determinadas refeições.
Opções com melhor suporte científico:
•Dieta pobre em FODMAPs: pode reduzir em até 50% sintomas como gases e distensão. Deve ser conduzida com o apoio de um nutricionista.
•Evite dietas restritivas sem orientação: dietas sem glúten ou baseadas em testes de intolerâncias alimentares (ex.: IgG) têm pouca evidência de eficácia.
2) Experimente fibra solúvel
•Psyllium (ispagula): pode ajudar a regular o trânsito intestinal e reduzir a distensão.
•Evite o farelo de trigo, pois pode agravar os sintomas.
3) Incorpore actividade física moderada
•O exercício regular ajuda a estimular o intestino, reduz o tempo de trânsito intestinal e melhora o humor — que também tem impacto no sistema digestivo.
4) Considere suplementos com evidência moderada
•Probióticos: podem ser úteis na distensão e nos gases. Prefira produtos com estirpes estudadas, como Bifidobacterium infantis.
•Óleo de hortelã-pimenta (em cápsulas entéricas): demonstrou eficácia na redução da dor e desconforto abdominal.
5) Se os sintomas persistirem, fale com o seu médico sobre medicação específica
6) Avalie o impacto emocional
•A ansiedade, o stress e a depressão estão frequentemente associados ao IBS.
•Terapias psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental e a hipnoterapia, têm demonstrado benefícios na melhoria dos sintomas.
Conclusão
Se sente distensão, dor abdominal e desconforto mesmo após exames que indicam estar tudo "normal", a Síndrome do Intestino Irritável pode estar por trás dos seus sintomas. Apesar de não ter cura, há várias estratégias eficazes para controlar a situação e melhorar o seu bem-estar.
Marinho Ribeiro & Rui Lopes
Nutricionistas BMS
Ford, Alexander C., et al. “American College of Gastroenterology Monograph on Management of Irritable Bowel Syndrome.” American Journal of Gastroenterology, vol. 113, June 2018, pp. 1–18, https://doi.org/10.1038/s41395-018-0084-x. Accessed 20 May 2025.