O placebo vende. E tu compras.

O placebo vende. E tu compras.

Body Mind Soul |

Outro dia contaram-me, com ar de quem tinha descoberto a cura para todos os males, que os óleos essenciais mudaram a vida deles.

“Lavanda para dormir, eucalipto para a concentração, laranja para a ansiedade.”

Parecia um menu do bem-estar.

E eu, que até acho graça a estes rituais modernos com cheirinhos, fiquei a pensar: será que mudaram mesmo a vida... ou só parece?

Vivemos num tempo curioso, onde “eu senti que me fez bem” passou a ser argumento irrefutável. Não há estudos, não há análises, não há comparação — mas se sentiste, então pronto. Está feito.
E não é que eu duvide do que as pessoas sentem. Eu acredito! Mas também sei que o que sentimos é, muitas vezes, um truque da nossa cabeça.

Porque quando queres muito melhorar, o teu cérebro entra em modo assistente pessoal e faz de tudo para confirmar a tua fé:

-Amplifica os dias bons (“foi mesmo por causa do óleo, de certeza!”)
-Ignora os dias maus (“foi só uma noite, o corpo ainda está a ajustar”)
-Esquece o que não encaixa na narrativa
-E até arranja maneira de transformar sensações neutras em sinais de progresso.

Chama-se efeito placebo.
E antes que alguém revire os olhos, deixa-me dizer: o placebo é poderoso. Realmente poderoso.
Só que não tem a ver com o produto. Tem a ver contigo. Com a tua expectativa. Com o teu desejo de melhorar.
É como um elogio falso que nos faz sentir confiantes — mesmo sabendo que foi só simpatia.

E isso é um problema?

Não necessariamente.
Se algo te faz sentir melhor, mesmo sem fazer nada fisiologicamente… já está a fazer alguma coisa.
Mas convém distinguir entre sentir bem e estar bem.

Porque há muitas coisas que dão a ilusão de progresso, mas não tratam nada:

-Produtos “naturais” que não fazem efeito nenhum
-Protocolos “ancestrais” que não resistem a uma análise simples
-Terapias que prometem muito e entregam quase nada
-E até modas alimentares que cortam tudo menos a vontade de viver

O mais irónico é que, muitas vezes, aquilo que realmente ajuda… não vem num frasquinho bonito.
Vem numa rotina aborrecida. Num plano de treino consistente. Numa consulta com um profissional que não tem frases inspiradoras no Instagram.
Vem com estudo. Com dados. Com evidência. Com o tal trabalho de bastidores que não dá vontade de filmar para os stories.

A ciência, essa chata, existe precisamente para nos lembrar que nem tudo o que parece bom, é bom.
Ela não é fria — é justa.
Não te pede para deixares de sentir, só te desafia a questionar.
A ir além da primeira sensação. A não confundir aroma com eficácia.

E atenção: não estou a dizer que nunca deves usar óleos essenciais, nem que a tua fé neles é ridícula. Longe disso.
A nossa mente é complexa e, às vezes, um ritual pode ser tudo o que precisamos para começar a mudar.
Mas também é verdade que precisamos de saber quando estamos a ser ajudados… e quando estamos apenas a ser embalados por uma boa história.

Porque entre a realidade e a perceção, há sempre um filtro — e esse filtro somos nós.

Por isso, da próxima vez que algo te fizer sentir incrível, para só um bocadinho e pergunta:
-Isto está mesmo a fazer efeito?
-Ou sou eu que quero muito acreditar que sim?

Ambas são respostas válidas. Mas só uma delas muda verdadeiramente a tua saúde.

E não, não vem com cheirinho a alfazema.

Rita Gomes
Personal Trainer BMS