Fisiculturismo e Risco Cardíaco: Quando o Corpo Forte Esconde um Coração em Risco

Fisiculturismo e Risco Cardíaco: Quando o Corpo Forte Esconde um Coração em Risco

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Nos últimos anos, o fisiculturismo passou de uma prática de nicho para um fenómeno global. Corpos gigantes, definidos até ao último músculo e rotinas de treino que desafiam qualquer lógica humana. Mas e o coração? Aguenta esse ritmo?

Um estudo recente publicado no European Heart Journal (2025) lançou luz sobre uma preocupação cada vez mais falada: a saúde cardíaca dos fisiculturistas. E os dados são... preocupantes.

O que diz a ciência?

Mais de 20 mil fisiculturistas do sexo masculino, que competiram entre 2005 e 2020, foram acompanhados. Durante este período, foram registadas 121 mortes — e 38% delas foram por morte súbita cardíaca. Ou seja, o coração parou, de repente, sem aviso. E o mais inquietante? A média de idades dos atletas que morreram a competir era de apenas 34 anos.

Em muitos casos, as autópsias revelaram corações aumentados e sobrecarregados — como se o motor tivesse sido levado ao limite durante demasiado tempo.

O peso invisível dos anabolizantes e do stress competitivo

O uso de anabolizantes e outras substâncias potenciadoras foi identificado (ou pelo menos suspeito) em muitos dos casos. Mas não é só isso. Dietas levadas ao extremo, desidratação constante, stress físico brutal e uma pressão estética absurda também entram na equação.

É como tentar manter um Ferrari a andar sempre no redline — um dia o motor vai rebentar.

Isto é um ataque ao fisiculturismo?

Não. Longe disso. O estudo não condena o desporto, mas alerta para a urgência de medidas de segurança:

  • Exames médicos regulares;
  • Educação sobre riscos;
  • Controlo antidoping eficaz;
  • E, acima de tudo, garantir que quem se inspira nestes atletas também tenha acesso à informação completa — o que se vê no palco é apenas a ponta do iceberg.

Então é tudo mau?

Não. O fisiculturismo pode ser praticado de forma segura, informada e com foco na longevidade, não só na estética. Mas exige uma cultura mais saudável, mais transparente, e menos obcecada com o “mais é sempre melhor”.

Conclusão

A morte de atletas como Illia “Golem” Yefimchyk, aos 36 anos, choca. Mas não devia surpreender. Serve de lembrete: músculos impressionam, mas é o coração que sustenta tudo. E este, ao contrário dos bíceps, não se vê ao espelho — mas pode ser o que te tira do palco… ou da vida.


Referência:
Vecchiato, Marco, et al. “Mortality in Male Bodybuilding Athletes.” European Heart Journal, 2025, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehaf285




Rita Gomes,

Diretora de treino BMS